A cor das lágrimas no piso da cozinha era cor caramelo, a mesma cor do uísque que ela tinha bebido antes. A cor dos seus lábios não tinha nenhuma cor azul, do frio que emanava pelas janelas impiedosamente abertas naquela noite. Eram vermelhos, de uma escarlate cor de sangue dos hematomas que seus dentes tinham produzidos.
- Eu vou..eu vou perder meu amor! Por isso sempre deixo uma garrafa por perto!
Ela sussurrava não sei pra quem. Dizia coisas sem sentido sobre um tal amor, um amor imperfeito. Esse amor que equilibrava o calor e o frio de seu corpo. Que palavra é essa? Amor. Por favor, alguém abra a gaveta da estante de seu quarto, terá bilhetes, poemas e canções. Então ela pensava, por favor, leia em voz alta para meus pais, pois não tenho coragem de falar em voz alta o que estou sentindo, se eles me conhecem tão bem como acho que conhecem, vão me levar daqui, vão me levar pra ele, pois ele é minha salvação.
O mundo gira, as luzes que vejo pela pequena janela da cozinha giram e giram e giram, sem fim, giram. Meu nariz está doendo, não agüento mais cheirar, respirar é difícil e acender um cigarro, nem se fala. Não tenho forças pra andar, nem penso em me levantar. Disse a eles que gostaria de descansar, mas só um pouco, não essa eternidade que estou aqui. Alguém pode me trazer mais um copo de uísque? Será que ninguém percebe que estou aqui há horas? Ninguém sente minha falta? Por que ninguém me ama, ninguém se importa? As luzes da cozinha estão incomodando meus olhos, mas, mas..alguém me ouviu, elas estão se apagando, já posso sonhar com meu amado! As luzes da cozinha se apagaram, e então meu coração diminui, quase desapareceu. Como se fosse a chama do isqueiro se apagando depois de acender meu cigarro, minha vida se apagou.
E ela definitivamente, morreu de amor.
Inspirado em uma grande mulher, minha homenagem final a Amy Winehouse, com todo meu carinho te desejo que descanse em paz, e saiba que se ele não te amou, existe muitas pessoas que te amaram. + 23/07/2011
Mayara Floriani
