De todos os nossos encontros, que não foram tão poucos,
nunca fui te encontrar com o meu carro além do nosso primeiro encontro. Pois
bem, no dia de hoje eu fui. Algo me dizia que se você me buscasse em casa
talvez eu não tivesse como voltar depois. Além disso, desde o dia que comprei,
junto com você, aquele anel de coquinho na praia, nunca havia tirado o
acessório do meu dedo anelar. Pois bem, no dia de hoje eu tirei.
Sai de casa com o coração apertado, com cãibras no pulmão
que me faziam não reter ar suficiente. Dirigi apreensiva e perdi a atenção no
trânsito por duas vezes. Ao chegar no parque te encontrei, daquele jeito que já
estava acostumada.
John, do nosso diálogo eu não preciso te lembrar, certo?
Você já sabe as palavras que trocamos, mas John, deixa eu te falar o que lá não
consegui dizer tão claramente:
Hoje eu te perdi, John.
John, hoje você me perdeu.
Nós nos perdemos.
E essa nossa perca nos acarreta em tantas outras percas.
Você nunca vai saber se daria mesmo certo. Você nunca vai
ver a tatuagem que farei no meu aniversário. Nós nunca mais iremos juntos para
a serra. Eu não acamparei mais com você. Eu não conhecerei mais a Guarda com
você. Você não dançará com mais ninguém. Nós não iremos mais para a Itália.
Você não me terá mais para te ajudar a limpar a janela imensa do seu novo
apartamento. Eu não ganharei mais lambidas do seu gato. Você não ganhará mais
minhas lambidas. Você não sairá mais com meus amigos. Nós não teremos mais
nossos beijos e conversas no carro. Eu não terei mais seu pescoço para cheirar.
Você não terá mais a menininha que te alegrava. Eu não terei mais minha válvula
de escape desses meus mundos loucos. Nós não teremos mais o nosso amor.
E você pode dizer que não era amor, você pode dizer que sou
intensa, que não nos amávamos e que somos muito diferentes. Bem, fale isso
tudo, mas sei que no fundo não foi apenas eu que perdi John.
Deixa eu te falar, John, dos seus medos e anseios: não faça
com que eles sejam maiores que você, que te impeçam de fazer as melhores coisas
da vida, que te impeçam de acreditar que você merece a felicidade. Você, John,
é tão parecido comigo e não sabe. Se você diz que sou alegre, cheia de vida e
com tantas coisas boas pela frente, você, amore mio, é exatamente assim.
Amore mio
Nós perdemos isso também!
Eu queria tanto que uma vez na vida você vivesse de verdade.
Falasse sim de verdade. Aproveitasse de verdade. Eu queria tanto que você
entendesse que pra saber que algo vai dar certou ou errado não tem outra saída a não ser
testando, que a vida não é feito de hábitos e sim de paixões. Você acorda todo
dia para viver suas paixões e não por que isso é um hábito. Eu queria tanto
tantas coisas para você. Eu queria a sua felicidade. Só que no fim, John, quem
precisa querer isso é você e não eu. Você é a pessoa mais importante da sua
vida e se você não se coloca nesse papel, não vou ser eu quem vai colocar.
Eu te perdi, John, mas por favor, amore mio, não se perca de
você!