Antes de saber o que viria por acontecer já sentia as
borboletas dançando em meu estômago. Logo viria o primeiro oi, mas não tinha
certeza como aconteceria. Direcionei um sorriso tímido e ele correspondeu.
– Oi! – tímido, tímido, tímido. Três vezes tímido.
-–Oi, tudo bem? – Disse, antes mesmo de deixar só um simples
oi solto no vento, precisava de conversa, precisava conhecê-lo.
– hm uhum – disse ele sem me olhar e sem questionar se eu
estava bem, obrigada Sr. Educação.
Sorri novamente em sua direção. Não um sorriso do tipo que
mostra mil e um dentes, mas sim aquele que não mostra nenhum. Apenas uma
expressão facial de – sim, está tudo bem –.
Os dedos batucavam na mesa, depois paravam. Arrasta cadeira.
Muda posição. Cruza as pernas, ou melhor, descruza. Já passaram 20 minutos e
mais nenhum som ecoou por nenhuma das duas bocas ali presentes. Respira fundo e
agora prende a respiração. Faz careta para o gráfico do quadro, faz sinal de
negação com a cabeça quando o professor pergunta se todos entenderam. Torce pra
que ele não veja. Não deu certo, ele viu. A explicação se inicia novamente. O batuque
nos dedos volta e o olhar que era pra ser discreto atrai a atenção dele pra
mim. Mais um sorriso de expressão facial. Sorriso correspondido.
Professor termina de explicar a questão novamente. – Todos entenderam?
– disse o professor agoniado por perder três minutos a mais com a explicação de
algo desnecessário.
– Não entendi nada – diz ele tão baixo que quase não consigo
ouvir.
– Oi? Falou comigo? – pergunto. Realmente não ouvi o que ele
disse.
– ah, não. Não falei, só pensei alto. É que não entendi. –
Novamente foi mal educado, conversando comigo sem olhar em minha direção.
– também não entendi, mas vou estudar em casa hoje, prometo.
– Antes de prometer, um riso involuntário foge da minha garganta. Ele riu
junto.
– Sim, essa é a promessa diária não é mesmo? – disse ele.
Agora olhando pra mim.
– Quase sempre – ri de novo. Deu de rir menina.
Silêncio. Tic tac, tic tac, tic tac..mais silêncio.Cabeça
girando. Manias a flor da pele. Morde lábio. Enrola cabelo. Escreve na mesa. O
tempo passa. Por enquanto, nem uma palavra nova apareceu. Já se passaram 12
minutos até eu resolver falar.
– Tu sabe se...
– que horas são? – ele me interrompe antes que eu fizesse
uma pergunta tão banal quanto essa, já que seu celular estava em cima da mesa.
– 19:30 ainda – respondo isso apertando na tecla do seu
celular e olhando a hora no celular dele, depois de sorrir um sorriso de
adolescente que acaba de fazer algo inapropriado.
– nem tinha visto ele ali. – respondeu sem graça com as
bochechas já coradas. – é que, sabe..fico meio nervoso!
– com o que? – pergunto já sabendo a resposta, é claro.
– não sei, acho que..você – ele olha pro caderno.
– desculpa – digo rápido. Desculpa nada eu penso, isso é
sinal de que você também tem essa vontade de me conhecer, tanto quanto eu
tenho.
– Não, calma. Não é um nervoso ruim, é um nervoso estranho
só. – diz ele rápido.
– Ta, entendo. – só respondi, sem joguinhos agora.
Silêncio novamente, ele nem se deu ao trabalho de me
responder. Também, o que ele poderia me responder? Foi algo que eu não queria
fazer, uma frase dita sem entusiasmo. Reclamo da morte da conversa, mas fui eu
mesma que a matei.
O tempo passa e descanso minha cabeça no meu caderno. Infelizmente
só percebi que estava com o rosto virado em sua direção depois que acordei.
Talvez eu tenha dormido por um bom tempo, não lembro. Somente senti um carinho
no meu ombro, mas o cansaço me pegou quando estava sem defesas. Cochilei,
peguei no sono e ponto final.
Acordei com a voz de um amigo me chamando, e logo que abri
os olhos ele não estava mais lá. Levantei e olhei ao redor do ambiente pra ver
se o encontrava. Nada. Só vi um bilhete com o meu nome escrito. Caligrafia feia,
mas meu nome.
Abri o bilhete e nele estava escrito:
– Não quis te acordar, desculpa ir embora sem dizer tchau.
Minha namorada me ligou com problemas. Boa aula e boa noite. Beijos.
Amassei o bilhete e sorri. Caligrafia feia, mas de um novo
amigo.