quinta-feira, 26 de julho de 2012

Sem nome

Seus olhos estão doendo, não aguenta mais ler. Sabe que não pode parar, mas não consegue mais continuar. Sua barriga fica roncando com intervalos de três minutos. Está morrendo da fome e o pior é que ela sabe que só vai jantar daqui a três horas e dez minutos. Tira os óculos que agora precisa usar, pois sua vista cansa muito rápido e lhe causa dores de cabeça. Meche no seu cabelo e depois de deixa-lo todo desgrenhado, debruça-se sobre seus livros. Maldita hora que eu fui escolher fazer o contrário que todo dizia para eu fazer, pensou ela. Já se passaram três minutos, seu estômago roncou novamente. Levantou-se da cadeira, foi até a cozinha e pegou um copo sujo na pia. Lavou ele com apenas água e pensou que maravilha seria se sua fome passasse apenas com um grande e bem gelado copo de água. Tomou todo o copo que recém tinha enchido com água para tentar comprovar sua tese, mas infelizmente, sua fome ainda estava ali. Sem vontade de voltar a estudar para a prova que teria no dia seguinte, no primeiro período, no turno da manhã, dirigiu-se ao seu “quarto sala”. Sala por que a TV que tinha ganhado do seu pai estava lá, juntamente com o sofá velho que ficou adoravelmente bonito com uma manta rosa com estampas de tigre por cima, e quarto por que sua cama de solteiro se encontrava do lado do sofá, porém mais próximo da janela para sentir o sol de manhã. Ao dirigir-se ao seu guarda roupa, que também fazia parte do seu “quarto sala” posicionado ao lado da TV, pegou sua mochila de escola e retirou todos os livros e documentos impressos que a mochila guardava, ao jogar tudo em cima da cama, lembrou-se que naquela noite não teria aula e isso lhe deu uma pontada de felicidade, um sorriso brotou em seu rosto com olhos cansados. Ao selecionar as coisas que ocupariam o lugar vago de sua mochila, escolheu uma toalha, um protetor solar, garrafinha de água, uma tanga para poder se sentar no chão, e um livro. Mas não um livro chato que ela era obrigada a ler para conseguir responder corretamente as questões da prova que faria amanhã. Um livro “legal” a seu ver, um livro do autor que ela mesma escolheu, com o roteiro praticamente igual a todos os outros que ela já leu. O tipo de livro que lhe fazia sonhar e voar em seus sonhos. Antes de fechar o zíper da mochila, levou seu kit de maquiagem, só os mais básicos para poder repor sua cara de saúde depois de sair da praia. Não poderia esquecer também seu tique alimentação, que era um dos motivos de faze-la sair de casa naquele momento. Já estava de biquine, na verdade, sempre estava de biquine em casa. Colocou uma saia que estava jogada em cima de sua cama, e uma regata de renda que estava em cima do sofá. Graças a Deus seus pais não estavam ali para ver a baderna que era sua casa. Olhou-se no espelho e tentou adivinhar se seu namorado aprovaria aquela roupa. Provavelmente não. Ao fechar o zíper da mochila, dirigiu-se a todas as janelas da casa e as fechou. Depois voltou para seu “quarto sala” e pegou sua mochila. Trancou a porta pela qual saiu e desceu a ladeira em direção à praia. Sua fome ainda estava presente, ainda mais sabendo que agora faltavam menos de duas horas para poder cessar sua fome. Ao começar a ver um pedacinho do mar percebeu por que queria tanto ir para aquele lugar, longe de tudo que um dia conheceu. A paz. A paz veio lhe dizer boa tarde assim que ela tirou as rasteirinhas e sentiu a areia em seus pés. Depois, a paz veio lhe dizer – tudo bem? Assim que ela sentou em cima de sua tanga e olho o mar. Ali, apenas admirando as maravilhas que Deus fez, observando os pássaros voando, as pessoas caminhando e sentindo saudades, mas uma saudade boa, um tipo de saudade que te impulsiona para frente sem querer voltar ao passado, simplesmente sentir saudades das coisas que você não pode mais fazer a qualquer momento, mas quando faz, sente um prazer triplamente maior. Mayara Floriani