domingo, 3 de abril de 2016

Hoje perdi John.


De todos os nossos encontros, que não foram tão poucos, nunca fui te encontrar com o meu carro além do nosso primeiro encontro. Pois bem, no dia de hoje eu fui. Algo me dizia que se você me buscasse em casa talvez eu não tivesse como voltar depois. Além disso, desde o dia que comprei, junto com você, aquele anel de coquinho na praia, nunca havia tirado o acessório do meu dedo anelar. Pois bem, no dia de hoje eu tirei.

Sai de casa com o coração apertado, com cãibras no pulmão que me faziam não reter ar suficiente. Dirigi apreensiva e perdi a atenção no trânsito por duas vezes. Ao chegar no parque te encontrei, daquele jeito que já estava acostumada.

John, do nosso diálogo eu não preciso te lembrar, certo? Você já sabe as palavras que trocamos, mas John, deixa eu te falar o que lá não consegui dizer tão claramente:

Hoje eu te perdi, John.
John, hoje você me perdeu.
Nós nos perdemos.
E essa nossa perca nos acarreta em tantas outras percas.

Você nunca vai saber se daria mesmo certo. Você nunca vai ver a tatuagem que farei no meu aniversário. Nós nunca mais iremos juntos para a serra. Eu não acamparei mais com você. Eu não conhecerei mais a Guarda com você. Você não dançará com mais ninguém. Nós não iremos mais para a Itália. Você não me terá mais para te ajudar a limpar a janela imensa do seu novo apartamento. Eu não ganharei mais lambidas do seu gato. Você não ganhará mais minhas lambidas. Você não sairá mais com meus amigos. Nós não teremos mais nossos beijos e conversas no carro. Eu não terei mais seu pescoço para cheirar. Você não terá mais a menininha que te alegrava. Eu não terei mais minha válvula de escape desses meus mundos loucos. Nós não teremos mais o nosso amor.

E você pode dizer que não era amor, você pode dizer que sou intensa, que não nos amávamos e que somos muito diferentes. Bem, fale isso tudo, mas sei que no fundo não foi apenas eu que perdi John.

Deixa eu te falar, John, dos seus medos e anseios: não faça com que eles sejam maiores que você, que te impeçam de fazer as melhores coisas da vida, que te impeçam de acreditar que você merece a felicidade. Você, John, é tão parecido comigo e não sabe. Se você diz que sou alegre, cheia de vida e com tantas coisas boas pela frente, você, amore mio, é exatamente assim.

Amore mio
Nós perdemos isso também!

Eu queria tanto que uma vez na vida você vivesse de verdade. Falasse sim de verdade. Aproveitasse de verdade. Eu queria tanto que você entendesse que pra saber que algo vai dar certou ou errado não tem outra saída a não ser testando, que a vida não é feito de hábitos e sim de paixões. Você acorda todo dia para viver suas paixões e não por que isso é um hábito. Eu queria tanto tantas coisas para você. Eu queria a sua felicidade. Só que no fim, John, quem precisa querer isso é você e não eu. Você é a pessoa mais importante da sua vida e se você não se coloca nesse papel, não vou ser eu quem vai colocar.

Eu te perdi, John, mas por favor, amore mio, não se perca de você!





terça-feira, 1 de março de 2016

Será que realmente vale a pena?

Enquanto as lágrimas estavam penduradas nos meus olhos esperando alguém passar na minha frente para então rolar pelo meu rosto, envergonhando-me por chorar em um lugar público, o único pensamento que rodava em minha mente era:

Será que realmente vale a pena?

Vale mesmo a pena todo esse esforço para ser bem sucedida? Vale mesmo a pena todas essas horas de trabalho dentro de um escritório? Todas as horas trancafiada em uma sala de aula durante cinco anos? Será que vale mesmo a pena todas as horas investidas no voluntariado? E lendo os livros sobre abordagens psicológicas que eu não gosto? Ou todas as horas que eu passo convivendo com pessoas com as quais tenho apenas relacionamento estritamente profissional? Vale a pena rir de uma piada de alguém que não gosto apenas por educação? Correr de um lado para o outro para estar em todos os compromissos na hora marcada? E todas as horas gastas em filas? Será que vale a pena gastar tanto tempo lendo tantos emails? Fazendo tantas reuniões? Participando da maior quantidade de cursos possíveis? Gastando meu dinheiro com coisas que eu não quero? Horas de estágio obrigatório? Vale a pena eu ter tanta dor nas costas por carregar tantas coisas dentro de uma bolsa? Vale a pena?

Será que realmente vale a pena gastar uma quantidade incontável de horas em tantas coisas que me tornarão uma profissional um tanto quanto "a cima da média" quando tiver trinta anos? Será que vale mesmo a pena?

Hoje o dia não foi bom, na verdade o dia foi péssimo. Sabe aqueles dias que você não se sente grata por nada? Dias que se percebemos qualquer sinal de felicidade alheia a única pergunta que nos virá, é
- Em que mundo essa pessoa vive para estar tão feliz?

Sonhos...

Às vezes eu penso nos meus sonhos. Sonhos que eu sonho e parecem que nunca vão se realizar, desejos que eu tenho que parecem nunca serem atingíveis. Sonhos grandes, médios e pequenos. Para piorar, os pequenos que são tão simples, por causa da minha rotina louca de querer ser "bem sucedida", estão cada vez mais longe.

A semana tem sete dias, 168 horas, 10080 minutos e quantas horas eu passo fazendo o que eu amo? Quantas horas eu passo dormindo? Lendo um livro que eu realmente queira ler? Quantas vezes vou ao cinema? Assisto um filme ou documentário interessante? Quantas horas eu passo dançando? Caminhando de mão dada com alguém que eu amo? Quantas horas eu fico perto dos meus amigos de verdade? Quantas horas eu gasto cuidando da minha saúde? Praticando yoga? Andando de bike? Quantas horas eu passo cozinhando algo que eu gosto? Estudando algo que eu queira genuinamente aprender? Apreciando a natureza? Quantas horas eu passo dirigindo sem rumo? Tocando piano? Beijando?  Recebendo massagem? Quantas horas dessa minha semana maluca eu passo tomando o café da manhã sentada na mesa da cozinha? Almoçando ou jantando com minha família? Quantos dias da minha vida eu passo fazendo o que eu realmente quero fazer? O que me faz feliz?

Quantas horas?

E de novo...Será que realmente vale a pena?

Hoje o dia não foi bom, a ficha caiu mais uma vez e a vida que levo deixou de fazer sentido novamente. Hoje o dia não foi bom e por isso resolvi me presentear.

Faltei na aula.

Vim pra casa.

Tomei um banho quente.

Jantei na mais bela solitude.

Relaxei.

Escrevi.

Hoje eu resolvi me presentear, desligar o motor, resolvi respirar.
Hoje o dia não foi bom...mas eu faço questão de melhorá-lo agora.