quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Pequena convesa



  Antes de saber o que viria por acontecer já sentia as borboletas dançando em meu estômago. Logo viria o primeiro oi, mas não tinha certeza como aconteceria. Direcionei um sorriso tímido e ele correspondeu.

– Oi! – tímido, tímido, tímido. Três vezes tímido.

-–Oi, tudo bem? – Disse, antes mesmo de deixar só um simples oi solto no vento, precisava de conversa, precisava conhecê-lo.

– hm uhum – disse ele sem me olhar e sem questionar se eu estava bem, obrigada Sr. Educação.

   Sorri novamente em sua direção. Não um sorriso do tipo que mostra mil e um dentes, mas sim aquele que não mostra nenhum. Apenas uma expressão facial de – sim, está tudo bem –.
   Os dedos batucavam na mesa, depois paravam. Arrasta cadeira. Muda posição. Cruza as pernas, ou melhor, descruza. Já passaram 20 minutos e mais nenhum som ecoou por nenhuma das duas bocas ali presentes. Respira fundo e agora prende a respiração. Faz careta para o gráfico do quadro, faz sinal de negação com a cabeça quando o professor pergunta se todos entenderam. Torce pra que ele não veja. Não deu certo, ele viu. A explicação se inicia novamente. O batuque nos dedos volta e o olhar que era pra ser discreto atrai a atenção dele pra mim. Mais um sorriso de expressão facial. Sorriso correspondido.

   Professor termina de explicar a questão novamente. – Todos entenderam? – disse o professor agoniado por perder três minutos a mais com a explicação de algo desnecessário.

– Não entendi nada – diz ele tão baixo que quase não consigo ouvir.

– Oi? Falou comigo? – pergunto. Realmente não ouvi o que ele disse.

– ah, não. Não falei, só pensei alto. É que não entendi. – Novamente foi mal educado, conversando comigo sem olhar em minha direção.

– também não entendi, mas vou estudar em casa hoje, prometo. – Antes de prometer, um riso involuntário foge da minha garganta. Ele riu junto.

– Sim, essa é a promessa diária não é mesmo? – disse ele. Agora olhando pra mim.

– Quase sempre – ri de novo. Deu de rir menina.
Silêncio. Tic tac, tic tac, tic tac..mais silêncio.Cabeça girando. Manias a flor da pele. Morde lábio. Enrola cabelo. Escreve na mesa. O tempo passa. Por enquanto, nem uma palavra nova apareceu. Já se passaram 12 minutos até eu resolver falar.

– Tu sabe se...

– que horas são? – ele me interrompe antes que eu fizesse uma pergunta tão banal quanto essa, já que seu celular estava em cima da mesa.

– 19:30 ainda – respondo isso apertando na tecla do seu celular e olhando a hora no celular dele, depois de sorrir um sorriso de adolescente que acaba de fazer algo inapropriado.

– nem tinha visto ele ali. – respondeu sem graça com as bochechas já coradas. – é que, sabe..fico meio nervoso!

– com o que? – pergunto já sabendo a resposta, é claro.

– não sei, acho que..você – ele olha pro caderno.

– desculpa – digo rápido. Desculpa nada eu penso, isso é sinal de que você também tem essa vontade de me conhecer, tanto quanto eu tenho.

– Não, calma. Não é um nervoso ruim, é um nervoso estranho só. – diz ele rápido.

– Ta, entendo. – só respondi, sem joguinhos agora.

   Silêncio novamente, ele nem se deu ao trabalho de me responder. Também, o que ele poderia me responder? Foi algo que eu não queria fazer, uma frase dita sem entusiasmo. Reclamo da morte da conversa, mas fui eu mesma que a matei.
   O tempo passa e descanso minha cabeça no meu caderno. Infelizmente só percebi que estava com o rosto virado em sua direção depois que acordei. Talvez eu tenha dormido por um bom tempo, não lembro. Somente senti um carinho no meu ombro, mas o cansaço me pegou quando estava sem defesas. Cochilei, peguei no sono e ponto final.
   Acordei com a voz de um amigo me chamando, e logo que abri os olhos ele não estava mais lá. Levantei e olhei ao redor do ambiente pra ver se o encontrava. Nada. Só vi um bilhete com o meu nome escrito. Caligrafia feia, mas meu nome.
 
Abri o bilhete e nele estava escrito:

– Não quis te acordar, desculpa ir embora sem dizer tchau. Minha namorada me ligou com problemas. Boa aula e boa noite. Beijos.

Amassei o bilhete e sorri. Caligrafia feia, mas de um novo amigo.

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