domingo, 12 de julho de 2015

Missing call

- "Você está brava?"

Disse ele com aquela voz rouca que sempre tem depois de ficar muito tempo em silêncio e eu, que fui surpreendida com aquela pergunta desalinhada, não me recordo quanto tempo demorei para responder. Sei que não consegui dizer nada além de um - "Hm, sei lá"!

Estávamos a aproximadamente três dias sem trocar uma palavra. Eu sei que três dias não é algo muito relevante para a maioria das pessoas, mas para mim, naquele momento, parecia uma eternidade. Percebi que estava investindo muito em uma causa sem retorno e resolvi me afastar, fazer um estudo de caso, analisar os fatos e ver se a pena realmente valia. Pela minha cabeça já havia passado diversos pensamentos de desistência e de possibilidades de abandonar um relacionamento, que nem era relacionamento ainda, mas que já estava fadado ao descaso e a falência.

Eu não sei onde ele estava naquele momento, não sei com quem ele estava ou se estava fazendo algo importante. Sei que eu estava sozinha, no me quarto, com uma pilha de xerox da faculdade espalhados pela cama e vestindo apenas uma camiseta velha e uma calcinha box. Ele me pegou desprevenida com aquela ligação. Eu sou a pessoa que liga, não ele. Eu sou a pessoas que se importa, não ele.

-"Hmmm, entendi" Disse ele.

-"Entendeu o quê?" Perguntei. Se ele entendeu algo, eu gostaria muito que me explicasse, por que nem eu, que fui a dona das palavras que saíram pela minha boca em um som quase inaudível , consegui entender.

-"Sei lá, só entendi" Disse ele com a voz, que continuava roca, que não transmitia nenhum sentimento. Nem tristeza, nem alegria. Apenas palavras flutuantes pelo ar.

Eu estava sentada  na minha cama, olhando a parede branca e lembrando de nós dois na primeira vez que nos beijamos. Me deu vontade de chorar!

-"Tenho que desligar, preciso dormir". Me despedi  sem muitas delongas e encerrei a chamada.

Encerrei a chamada com um certo alivio. Percebi que na vida precisamos ter angustias, sofrimentos, medos e incertezas. Precisamos ter esses sentimentos tanto quanto a felicidade. A vida às vezes é um banquete real e outras vezes, apenas um sanduíche feito com o pão dormido, mas quando se tem fome de viver, tanto o banquete quanto o pão saciam a nossa fome.  

Percebi que sempre me doo por completo, não existe a possibilidade de me doar pela metade, amar pela metade e muito menos, viver pela metade. Eu sou intensa e às vezes me decepciono com as pessoas por elas não serem tão intensas quanto eu. Sei que ainda preciso trabalhar esse lado em mim, viver mais tranquila, entender e aceitar o comportamento das outras pessoas, do jeito e maneira que elas são.

Mas também sei, e sei muito bem, que quando tenho saudades eu ligarei, mesmo que de madrugada, para lhe dizer: "Estou com saudades!". E quando eu quiser te ver, eu te convidarei, mesmo sem você ter me convidado antes. E quando eu gostar de você, eu falarei: - "Eu gosto de você". Do mesmo jeito que falarei o quanto você me deixa feliz e me faz bem. Eu sou esse tipo de pessoa e às vezes, por esses mesmos motivos, acabo assustando as pessoas que me rodeiam e que são diferentes de mim.

Hoje eu percebo, que mesmo com o coração apertado e mal cabendo no peito, eu fiz a coisa certa. Fiz e faço a coisa certa. Eu vivo e me deixo viver. Eu escolho e aceito as consequências. Eu sou exatamente aquilo que quero ser. Por mais que seja difícil, é o jeito que quero viver.

A única coisa que me deixa triste nessa história toda é você. Você que não diz que sente saudades quando esta com saudades. Você que não diz para as pessoas que são importantes para ti, o quanto gosta delas. Você que larga o abraço por primeiro e nunca aperta o teu corpo suficientemente forte ao da outra pessoa. Você que mesmo querendo dizer tudo, não diz nada.

Eu posso afastar as pessoas pela minha sinceridade e espontaneidade, mas você também pode, e se for pra espantar as pessoas por que estou tentando ser feliz e tentando fazê-las felizes, é assim que prefiro fazer. Por que pelo menos eu afasto as pessoas pois sou sincera comigo mesma, já você, afasta as pessoas sem nem ao menos tentar fazer com que elas saibam que você as quer por perto.  



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