Eu quero que você saia da minha vida agora, garota. Quero
que você me deixe exatamente como eu estava a três semanas atrás. A minha vida
estava tranqüila na melancolia que eu escolhi viver. Eu podia reclamar do
tempo, da política e do mar. Eu podia espernear e brigar com minha mãe sobre
coisas supérfluas, eu podia viver de mal
humor e brigar com as pessoas no trânsito, eu podia ser eu mesmo na minha
infelicidade tão amada. Eu só quero voltar, quero voltar pra minha doce e
querida melancolia e, sinto lhe informar, vocês duas juntas não combinam.
Sabe por que, garota? Por que você é feliz, você é doce,
você é o meu oposto. Você não reclama, não chora e não esperneia. Você diz
obrigada e por favor para todos e, inclusive, eu sei que você se sente um pouco
mal quando eu não agradeço e peço licença. Você é do bem e eu sou do mal!
Agora você entende o por que eu quero que você saia da minha
vida? Como é que eu posso reclamar da minha infeliz vida se com você eu deixo
de ser infeliz e passo a ter a felicidade constantemente ao meu lado? Sei que
para você isso é difícil, mas a infelicidade é muito mais próxima e confortável
para mim do que essa sua tal amiga, felicidade. Como é que eu posso brigar e
reclamar das coisas pequenas quando você, que nunca percebe nelas, só se magoa em
relação a fome no mundo e ao preconceito?
Como é que eu posso
ser tão reduzido a pequenos problemas se você é tão incrivelmente grandiosa na
arte da gratidão?
Me deixa em paz, garota! Em nenhum momento te pedi pra me
fazer feliz. Me deixe em paz, garota, antes que eu me torne uma versão pirata
de você ou que eu te corrompa com o meu mau humor existencial.
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