sábado, 18 de julho de 2015

Sobre não querer gostar dela

Eu quero que você saia da minha vida agora, garota. Quero que você me deixe exatamente como eu estava a três semanas atrás. A minha vida estava tranqüila na melancolia que eu escolhi viver. Eu podia reclamar do tempo, da política e do mar. Eu podia espernear e brigar com minha mãe sobre coisas supérfluas,  eu podia viver de mal humor e brigar com as pessoas no trânsito, eu podia ser eu mesmo na minha infelicidade tão amada. Eu só quero voltar, quero voltar pra minha doce e querida melancolia e, sinto lhe informar, vocês duas juntas não combinam.

Sabe por que, garota? Por que você é feliz, você é doce, você é o meu oposto. Você não reclama, não chora e não esperneia. Você diz obrigada e por favor para todos e, inclusive, eu sei que você se sente um pouco mal quando eu não agradeço e peço licença. Você é do bem e eu sou do mal!

Agora você entende o por que eu quero que você saia da minha vida? Como é que eu posso reclamar da minha infeliz vida se com você eu deixo de ser infeliz e passo a ter a felicidade constantemente ao meu lado? Sei que para você isso é difícil, mas a infelicidade é muito mais próxima e confortável para mim do que essa sua tal amiga, felicidade. Como é que eu posso brigar e reclamar das coisas pequenas quando você, que nunca percebe nelas, só se magoa em relação a fome no mundo e ao preconceito?

Como é que eu posso ser tão reduzido a pequenos problemas se você é tão incrivelmente grandiosa na arte da gratidão?


Me deixa em paz, garota! Em nenhum momento te pedi pra me fazer feliz. Me deixe em paz, garota, antes que eu me torne uma versão pirata de você ou que eu te corrompa com o meu mau humor existencial. 



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